Cabo Verde é um país africano, constituído por umarquipélago de origem vulcânica de dez ilhas. Está localizado no Oceano Atlântico, a 640 km a oeste da capitalsenegalesa, Dacar, e do cabo que lhe dá o nome. Uma antiga província ultramarina portuguesa, as primeiras ilhas do arquipélago foram descobertas em 1456 por Diogo Gomes e Alvise Cadamosto e as seguintes em 1461 por Diogo Gomes eAntónio da Noli. Cabo Verde alcançou a independência a 5 de julho de 1975, sendo uma república parlamentaristamultipartidária desde 1990. Na ilha de Santiago, a maior do arquipélago, os portugueses construiram a primeira cidade fora da Europa, Ribeira Grande de Santiago, hoje chamada Cidade Velha, que se tornou muito importante no comércio de escravos. A posição estratégica das ilhas, nas rotas que ligavam Portugal ao Brasil e ao resto da África, tornou-as num entreposto comercial e de aprovisionamento, criando também uma sociedade caracterizada pela miscigenação de elementos europeus e africanos. O povo cabo-verdiano é conhecido pela sua musicalidade, tendo desenvolvido diversos géneros próprios, como a morna, o funaná e a coladera. As ilhas de Cabo Verde têm poucos recursos naturais e a agricultura é muito limitada pela falta de chuvas regulares. No entanto, as remessas dos emigrantes cabo-verdianos espalhados pelo mundo, a par das receitas do turismo, ajudaram o país a integrar-se na lista de nações com um Índice de Desenvolvimento Humano médio. Hoje em dia, a par da língua portuguesa, é amplamente usado o crioulo cabo-verdiano, em processo de normalização com vista a uma possível adoção como segunda língua oficial. Hoje é Segunda-feira, 21 de junho de 2010 Ler em Wikinotícias as notícias mais recentes sobre Cabo Verde. Cesária Évora (Mindelo, 27 de agosto de 1941), também conhecida como A Diva dos Pés Descalços, é a cantora cabo-verdiana de maior reconhecimento internacional de sempre. O género musical com o qual mais se relaciona é a morna, por isso também é apelidada de Rainha da Morna. Cize, como é conhecida pelos amigos, nasceu na ilha de São Vicente, filha de um músico amador que tocava cavaquinho, violão e violino. Em criança cantava aos domingos na praça principal da sua cidade acompanhada por seu irmão Lela nosaxofone. A sua vida está intrinsecamente ligada ao bairro do Lombo, onde cantou com compositores como Gregório Gonçalves. Aos 16 anos começou a cantarmornas e coladeras em bares e hotéis e, aos 20 anos, animava das festas da empresa de pesca Congelo, onde trabalhava. Após a independência do arquipélago, frustrada por questões pessoais e financeiras, Cesária desiste de cantar e luta contra o alcoolismo. Dez anos mais tarde, é convidada por Bana para fazer alguns espetáculos emPortugal e daí vai para Paris onde grava, em 1988, o seu primeiro álbum, "La diva aux pied nus" (a diva de pés descalços). Aclamado pela crítica, este álbum abre caminho a outro, em 1992, "Miss Perfumado". Cesária Évora torna-se uma estrela internacional aos 47 anos de idade.
Atualidade
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Em 2004 conquistou um Grammy de melhor álbum de world music e, em 2007, o presidente francês Jacques Chirac distinguiu-a com a medalha da Legião de Honra de França.
História de Cabo Verde
A História de Cabo Verde inicia-se com a descoberta europeia do arquipélago (1456), podendo dividir-se em duas grandes etapas: a colonial (até 1975) e a independente (até aos nossos dias).
A questão da autoria da descoberta de Cabo Verde é objeto de discussão historiográfica. No contexto dos Descobrimentos portugueses, admite-se que o arquipélago tenha sido alcançado em1456 por Diogo Gomes, a serviço do Infante D. Henrique. Outros autores atribuem o comando da primeira expedição ao veneziano Alvise Cadamosto, em 1460, ano da morte do Infante. Recentemente, entretanto, tem-se afirmado a prioridade do genovês António da Noli — ainda em vida do Infante —, com base na Carta-régia de 19 de setembro de 1462, que a refere expressamente:
- "D. Affonso e (…) A quantos esta carta virem fazemos saber que o Infante D. Fernando, Duque de Vizeu e de Beja, Senhor da Covilhã e de Moura e, meu mui amado e presado irmão nos enviou mostrar uma carta assinada por nós e sellada de nosso sello pendente feita em Cintra 12 de Novembro de 1457, porque lhe fizemos doação para elle ou por seu mandado fossem achadas assim e tão cumpridamente como a nós podessem pertencer, e com toda a jurisdição cível, crime, reservando para nós feitos crimes, alçada nos casos que caiba morte ou talhamento de membro (…) segundo mais compridamente em a dita carta é contheudo, pedindo nos o dito infante que, porquanto foram achadas 12 ilhas, a saber: cinco por António da Noli, em vida do Infante D. Henrique, meu tio, que Deus haja, que se chamam: jlha de Santiago e a jhla de Sam Filipe, e as jlhas das Mayas e a jlha das Mayas e a jlha de S. Christovam e a jlha do Sall que são nas partes da Guiná (…).[1]
Em finais de 1461 ou inícios de 1462 em nova viagem, o descobridor Diogo Afonso teria avistado as ilhas da Brava, São Nicolau, Santa Luzia, Santo Antão, São Vicente e os ilhéus Raso e Branco. De acordo com as narrativas coevas, essas ilhas encontravam-se desertas, sem qualquer indício de presença humana, como referido por Cadamosto:
- "…não se encontrando nelas senão pombos e aves de estranhas sortes, e grande pescaria de peixe." (Relação das Viagens à costa ocidental da África)
- "Estas ilhas são estéreis porque são vizinhas do trópico de Câncer e têm muito pouco arvoredo por causa de nelas não chover mais dos ditos três meses: são terras altas e fragosas e serão más de andar (...) os frutos não se dão nesta terra senão de regadio." (Esmeraldo de Situ Orbis, livro I, cap. XXVIII).
O período Colonial
Como os Açores e a Madeira, estas novas ilhas também eram desabitadas e foram incorporadas ao património da Ordem de Cristo. Após a morte do Infante D. Henrique (1460), Afonso V de Portugal transferiu as ilhas ao seu irmão, o Infante D. Fernando, então administrador da Ordem, por doação de 3 de Dezembro de 1460, "perpétua e irrevogavelmente", passando esta a receber o dízimo real e o religioso. Pelos seus termos, o Infante passava a superintender na jurisdição civil e criminal, com reserva apenas nos casos de pena de morte e talhamento de membros, de alçada exclusiva da Coroa. Neste primeiro momento a doação abrangeu apenas as cinco primeiras ilhas e, dois anos mais tarde, em 19 de Setembro de 1462, a totalidade do arquipélago.Anos mais tarde, por carta em resposta a seu irmão, o soberano reportou que "...havia quatro anos que começara a povoar a ilha de Santiago (...) que, por ser tão alongada de nossos reinos, a gente não quer a ela ir viver, senão com muitas liberdades e franquezas." (Carta de D. Afonso V ao Duque de Viseu, 12 de Junho de 1466.)A sua colonização iniciou-se, portanto, ainda em 1462, pela ilha de Santiago, em sua parte sul, na Ribeira Grande. Foi empregado o sistema de capitania, com mão-de-obra escrava oriunda da vizinha costa da Guiné, para a cultura decana-de-açúcar, algodão e árvores frutíferas. A ilha de Santiago foi dividida em duas circunscrições, sendo uma delas a Capitania do Sul, com sede na Ribeira Grande, doada a António da Noli. A outra foi doada a Diogo Gomes. Para colonizar o seu lote, Noli trouxe colonos doAlentejo e do Algarve.A segunda ilha a ser povoada foi a de São Filipe, atual Fogo, única que apresentou condições para o plantio da vinha, em finais do século XV, embora só haja testemunho documental no início do século seguinte, por doação de Manuel I de Portugal ao 2o. conde de Penela, D.João de Vasconcelos e Menezes, referindo que os termos da doação eram "assim e tão inteiramente como os capitães da dita ilha de Santiago os hão e usam deles." As doações seguiram-se nos anos seguintes, como as das capitanias das ilhas Brava, Sal e Santa Luzia, doadas a João Pereira (22 de Outubro de 1545) e a de Santo Antão, a D. Gonçalo de Souza (13 de Janeiro de 1548). Desde o início do povoamento, as ilhas da Boavista e do Maio foram destinadas à criação de gado, e doadas ao capitão da parte Sul da ilha de Santiago. Ainda assim a da Boavista foi novamente doada em 1490, vitaliciamente, a Rodrigo Afonso, com a determinação de que aquele capitão era obrigado ao pagamento do dízimo sobre os couros, sebo e carne dos animais ali criados, podendo matar os que bem entendesse, mas disso dando conhecimento ao escrivão da Fazenda. Acredita-se que a condição fosse idêntica na ilha do Maio, tendo o capitão vendido os seus direitos naquela ilha à família Coelho (10 de Junho de 1504.Os capitães donatários pouco devem ter se deslocado às ilhas de Cabo Verde, exceto os descobridores, que nelas estiveram pontualmente, de passagem, sendo necessário o recurso a funcionários régios e a delegados insulares para gestão dos interesses quer da Coroa quer dos Donatários.Com lentidão, devido aos rigores do clima, semelhante ao desértico, desenvolveu-se a colonização. A posição estratégica do arquipélago no âmbito das rotas atlânticas entre a Europa, a América e a África, contribuíram nos séculos seguintes para o seu desenvolvimento como entreposto comercial e de aprovisionamento, nomeadamente o tráfico de escravos para o Brasil, a região do Caribe e o sul dos Estados Unidos da América.Visando incentivar o povoamento, a 12 de Junho de 1466 D. Afonso V concedeu aos habitantes de Cabo Verde o poder comerciar em toda a costa da Guiné, com excepção da feitoria de Arguim (monopólio real), podendo levar todas as mercadorias que quisessem, salvo armas, ferramentas, navios e seus apetrechos, o que, a rigor, nunca foi cumprido. As mercadorias adquiridas, após o recolhimento dos impostos régios, podiam ser vendidas em Portugal e seus domínios, ou mesmo fora do reino. Tal grau de liberdade visava incentivar o povoamento de Cabo Verde, e ampliar o seu comércio, beneficiando os interesses da Coroa. Dois anos mais tarde (1468) registra-se o início da coleta daurzela, utilizada como corante na manufatura de tecidos, cuja exploração foi concedida a dois castelhanos.Com a mudança da política portuguesa no norte d'África, diante da necessidade de prosseguir a exploração das costas africanas, em 1469, o soberano arrendou a Fernão Gomes o comércio da Guiné, por cinco anos, no montante de duzentos mil reais por ano, com a obrigação de nesse período se descobrirem cem léguas do litoral africano para Sul. Ressalvava-se, entretanto, que "com a limitação que não resgatasse em a terra firme defronte das ilhas do Cabo Verde por ficar para os moradores delas". Nesta concessão participavam interesses de diversos mercadores italianos, alguns com sede no Funchal, ficando a ilha da Madeira responsável pelo reabastecimento de trigo das armadas com destino à costa da Guiné. Imediatamente os habitantes de Cabo Verde contestaram essa concessão, uma vez que o seu próprio comércio há muito que se internara na região do golfo, alcançando até mesmo a Serra Leoa.Anos mais tarde, em 1497, a Armada sob o comando de Vasco da Gama escalou em Cabo Verde, a caminho da Índia, na baía da Ribeira Grande.
O século XVI
As dificuldades de aproveitamento agrícola nas ilhas foram apontadas desde as suas primeiras descrições, como a de Duarte Pacheco Pereira, que nelas esteve algumas vezes ainda no século XV:
Ainda assim, já no século XVI os principais itens da pauta de exportações das ilhas são couros, sebo, algodão, cavalos, açúcar, aguardentee frutas como figos, uvas e melões, além da reexportação de tecidos ("panos") para o continente africano.Por volta de 1513-1515 o comércio de escravos encontra-se em vigorosa expansão. O seu principal centro, a Ribeira Grande de Santiago (atual "Cidade Velha"), em 1533 foi elevado à categoria de cidade, tornando-se sede de um Bispado. A sua importância era de tal ordem que, já em 1541, foi assaltada por piratas da Barbária e, por duas vezes - em 1578 e em 1585 - pelo corsário Inglês Francis Drake.Em 1587 Duarte Lobo foi nomeado primeiro governador de Cabo Verde, e, na Ribeira Grande, iniciam-se as obras do Forte Real de São Filipe.Nesse final de século, o cronista Gabriel Soares de Sousa, em sua "Notícia do Brasil" (1587), registra a importância de Cabo Verde para o processo de colonização do Brasil, no tocante à aclimatação e introdução de diversas espécies de animais e plantas, essenciais à história económica deste último, a saber: "...as primeiras vacas que foram à Bahia levaram-nas de Cabo Verde e depois de Pernambuco, as quais se dão de feição, que parem cada ano e não deixam nunca de parir por velhas", "As éguas foram à Bahia de Cabo Verde, das quais se inçou a terra", "As ovelhas e cabras foram de Portugal e de Cabo Verde, as quais se dão muito bem", "E comecemos nas canas-de-açúcar, cuja planta levaram à capitania dos Ilhéus das ilhas da Madeira e de Cabo Verde", "As palmeiras que dão os cocos, se dão na Bahia melhor que na Índia...", "...foram os primeiros cocos à Bahia de Cabo Verde, donde se encheu a terra...", o arroz "é tão grado e formoso como o de Valência", "Levaram a semente do arroz ao Brasil de Cabo Verde", e ainda "Da ilha de Cabo Verde e de S. Tomé foram à Bahia inhames que se plantaram na terra logo, onde se deram de maneira que pasmam os negros da Guiné, que são os que usam mais deles".
O século XVII
Com a abertura do porto da Praia (1612), o antigo porto da Ribeira Grande entra em decadência.No contexto da Guerra da Restauração, em 1650 Cabo Verde passa a administrar o território português da Guiné, situação que se estenderá até 1879.Diante da escassez de capitais para o desenvolvimento da região, os Conselhos da Fazenda e Ultramarino autorizam a fundação da Companhia da Costa da Guiné (1664), voltada para o comércio de escravos, colocando fim ao período dos arrendatários individuais e abrindo o das companhias escravagistas. Entre estas, destaca-se a Companhia de Cacheu e Rios da Guiné, que operou entre 1676 e 1682, sendo sucedida, em 1690, pela Companhia do Cacheu e Cabo Verde.Ainda nesse século, na pauta de exportações de Cabo Verde, destaca-se a de óleo de baleia, com destino ao Brasil